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quinta-feira, 12 de junho de 2008

As noivas de Santo António


A iniciativa começou por presentear, em 1958, 60 casais, todos jovens, entre os 18 e os 30 anos, provenientes de famílias carenciadas de Lisboa, decorrendo as cerimónias dos casamentos – só católicos - na Sé Catedral de Lisboa. Cada casal só levava consigo como convidados os respectivos pais e padrinhos. Depois de uma fotografia de conjunto nos degraus da catedral de Lisboa, os noivos, caminhando sobre uma passadeira vermelha, atravessava o largo da Sé e ia depositar o ramo de flores junto da imagem do Santo António, num dos altares da igreja fronteiriça com o mesmo nome. Nesse tempo, eram escolhidas quatro firmas e cada uma apresentava 15 fotógrafos, ficando um por casal. Depois, funcionava-se por poules. As firmas, que disputavam acerrimamente a oportunidade de mostrarem o seu valor, disponibilizavam por norma algumas máquinas fotográficas para serem sorteadas entre os casais, oferecendo no final algumas fotos aos noivos para o seu álbum. Os noivos eram conduzidos em cortejo nos populares “carochas” (todos iguais) que a Guérin punha à disposição da Câmara. Aliás, antes de se realizarem os casamentos, alguns dos carros que iriam transportar os casais ficavam em exposição no stand daquela empresa, no início da Avenida da Liberdade, junto ao Cinema Condes, bem como alguns dos vestidos de noiva. Era uma atracção para a população.Após os casamentos, o cortejo costumava passar pelas ruas da Conceição e do Ouro, seguindo pelo Terreiro do Paço e Ribeira das Naus até ao Cais do Sodré e Avenida 24 de Julho, Calvário, Junqueira, Calçada da Ajuda e Monsanto, até ao Restaurante Montes Claros, onde era servido sempre o animado copo-d’água e se faziam as fotos de casamento no ambiente bucólico ali existente.
Com tal história, pois, não espanta que o Santo António de Lisboa tivesse servido de pólo central de uma iniciativa que começou, nos anos 50 (em 1958), e que reunia no dia do padroeiro da cidade uma série de casais para se unirem pelo matrimónio.A ideia partiu do jornalista Augusto Cortês Pinto, que foi também vereador da Câmara Municipal de Lisboa e cuja tese defendia que o tradicional culto lisboeta a Santo António deveria ser aproveitado também como “valor turístico”. Um casamento com esplendor para um grande número de noivos na Igreja de Santo António seria, assim, uma forma de atrair as pessoas ao local, proporcionando-lhes um espectáculo de grande impacte e, simultaneamente, um dia inolvidável para os casais, bem como para os comerciantes da zona, é claro.Tal como acontece nos dias de hoje, a inscrição era muito disputada. A grande motivação, está de ver, era a garantia de um enxoval completo, o vestido de noiva e o fato para o noivo, as alianças, mobílias, roupas de cama e atoalhados, electrodomésticos e outras prendas pessoais e para o lar. Tudo oferecido pelos comerciantes das redondezas e mesmo de todo o País, que, por este meio, arrebatavam uma importante e muito oportuna publicidade.
Concluindo, os “Casamentos de Santo António” são uma tradição muito antiga na nossa Cidade. Aquilo que começou por ser uma iniciativa do extinto jornal Diário Popular, ao começar por organizar este evento em 1958, contou desde cedo com o apoio incondicional do município tornando-o um acontecimento incontornável, inserido nas populares festas da Cidade. Tal como hoje pretendia-se, desta forma, materializar a fama casamenteira de Santo António, o santo casamenteiro e padroeiro da cidade e uma das suas figuras mais carismáticas.Durante muitos anos organizou-se este evento, pensando nos jovens casais com mais débeis recursos económicos e a quem a cidade ajudava no seu início de vida em comum. Viria a ser interrompido em 1974, no auge das grandes transformações sociais, económicas e políticas que o país atravessou, recomeçando novamente em 1997, sob a égide da Câmara Municipal de Lisboa e sem mudar uma vírgula à sua intenção original. Ajudar todos aqueles mais desfavorecidos que, estando disponíveis para unir as suas vidas, escolhem esta data tão importante para a cidade para o fazer. Dada a grandiosidade e complexidade que a organização de um evento deste género possui, o município procura anualmente o inestimável apoio da sociedade civil e de alguns órgãos de comunicação social, sem o qual dificilmente se poderia concretizar. É aí que reside grande parte do sucesso desta iniciativa dada a vontade e disponibilidade demonstrada pela sociedade civil lisboeta no apoio, através das mais variadas formas, à sua concretização.Esta é uma daquelas iniciativas que não pretendemos abandonar. É uma marca na cultura e na identidade dos lisboetas e representa uma oportunidade única para alguns dos jovens que escolhem esta data para contrair matrimónio. É por isso uma tradição a preservar.

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