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terça-feira, 27 de maio de 2008

Acordo Ortográfico


No dia 16 de Março de 2008, foi aprovado o Acordo Ortográfico (para meu grande desgosto e revolta como professora e portuguesa). Este acordo já tinha sido aprovado em Portugal em 1994, mas só o Brasil, Cabo-Verde e são Tomé e Príncipe o puseram em vigor. Portugal estava a ter juízo até agora! O novo acordo vai entrar em vigor no ano 2014. Para mim, este acordo é um enorme erro, uma vez que o PORTUGÊS (supostamente Língua de Camões) é a língua materna, que nós levámos aos outros países lusófonos. Se assim foi, então porque é que temos de mudar a língua (original) em função dos outros?! Eles é que deveriam mudar em função da nossa, uma vez que nós é que temos o verdadeiro PORTUGUÊS ( e nós é que os colonizámos!). Mas como em tudo, Portugal facilita tudo em nome da política e dos interesses, e não tem em conta, nem respeito pelos anos e anos de História e Património. O acordo foi a provado na Assembleia da República e alguns dos comentários a favor do acordo foram: “é favorável tendo em conta a questão da política geoestratégica da Língua Portuguesa”, “o português é a única das 4 línguas de relações internacionais que não têm um código ortográfico comum” (temos pena, azar), “ o acordo é importante para salvaguardar o património e para facilitar as relações entre os países lusófonos” (nem comento), “ a soberania portuguesa não é dona da língua portuguesa” (o comentário mais triste). Para o ministro da cultura “ o novo acordo irá facilitar o uso do português por pessoas de graus de erudição diversos” (tadinhos, temos mesmo muita pena, azar).
Já Zita Seabra (PSD) foi a crítica mais activa, sendo contra o acordo e diz “ ao longo destes 6 anos (até 2014) talvez se ganhe juízo e o acordo não entre em vigor. O acordo vai criar problemas gravíssimos sem resolver nenhum, isto é, não há nenhuma aproximação entre as diferentes formas do português e é muito confuso, porque mesmo na ortografia, admite várias hipóteses e as pessoas podem escrever como quiserem (é a balbúrdia autêntica e à vontade do freguês). Esta é uma lei que nos quer obrigar a escrever sem regras claras (pois em algumas palavras pode-se optar por diferentes grafias) e o ensino deve ser uma coisa clara. Não se pode dizer a uma criança que tanto faz escrever assim ou assado!”. Já Manuel Alegre (PS), que também é contra, pois “ há um património que temos de conservar”. Para Ivo Castro, da Faculdade de Letras de Lisboa, “as coisas seriam mais naturais e lógicas se fossem conduzidas por academias e não por medidas governamentais”.
Por exemplo, nas bibliotecas escolares como será? Os livros terão de ser substituídos, ou as crianças vão ler com uma grafia diferente daquela que estão a aprender?!
A língua não se negoceia como o petróleo! Como Portuguesa e Professora, este acordo é uma ofensa à língua de Camões, ao Património, aos anos e anos de História!!! Deveríamos ter orgulho de possuir uma língua tão bonita e das mais elaboradas! Mas não, vamos ter de mudar, para facilitar! Enfim, Portugal com o facilitismo e os interesses habituais! Estamos a perder a nossa identidade!

1 comentário:

Unknown disse...

Certo, de fato fomos colonizados e tudo mais, o que desde já agradeço-vos, mas também convenhamos que não foi exatamente uma gentileza vossa. Os portugueses não desmataram, ocuparam, colonizaram e catequizaram o Brasil pela simples boa fé e educação. Mas tudo isso são águas passadas, reclamarmos de que fomos colonizados ou reclamares que fomos os colonizados é esquecer que a realidade é outra, diversa. Atualmente, sem suas colônias, sem o peso da cultura em língua portuguesa produzida pelo Brasil ou por Angola e outros mais, a língua lusa seria um chiado no amplíssimo mundo anglo-hispânico em que vivemos. E nesse sentido, o acordo é muito válido porque pretende unificar toda uma cultura. Não se esqueça que nós aqui no Brasil já mudamos e muito a escrita de como foi e esse processo já dura mais de século.
Infelizmente, entretanto, frente ao que se propõe, o acordo me parece infrutífero, porque certamente não auxiliará a nós, brasileiros, entender-vos. Para tanto, falta-nos muito mais uma educação de qualidade do que novas regras de acentuação ou ortografia.
Essa realidade, por sinal, lamento, pois pelo pouco contato que tive com a cultura portuguesa percebi que ela seria de grande interesse esse meu país, como certamente a nossa é para os portugueses. De qualquer forma, voltando ao acordo, tenho que admitir que o esforço, por si, já é louvável, e espero que ele venha acompanhado de reais políticas de intercâmbio cultural.
Por força da verdade, entretanto, acho justo fazer um adendo quanto à tão protegida língua de Camões. Do brasileiro, vocês conhecem a linguagem urbana semi-jornalística, a linguagem da Globo, mas nossa diversidade é mais ampla, e muitas vezes bem mais próxima da usada nos poemas de Camões que a vossa. E não estou de gozo, o gerúndio, por exemplo, era forma corrente no português, mesmo em Portugal, ate que caiu em desuso aí em meados do século XIX, não me falha a memória. Ou seja, gerúndio é forma camoniana, não esse modelo afrancesado utilizado aí.
Mas tudo isso me parece mesmo irrelevante, tal discussão encobre algo muito mais importante, a necessidade de nações como as nossas serem não só amigas, mas irmãs.
(qualquer erro, sugestão, critica, correção, por favor, escreva-me: euclidesvega@gmail.com)